Fotografia anti-like

Por vezes a fotografia procura o instante raro, perseguindo a imagem perfeita como se esta encerrasse um troféu ou um feito técnico irrepreensível. Mas há outra forma — mais silenciosa, mais interior — de estar com a fotografia, não como busca, mas como escuta, não como captura, mas como relação.

Fotografar, para mim, não é um gesto de posse, mas de aproximação. Um modo de olhar o mundo sem o interromper. Ao levantar a câmara, não pretendo congelar a realidade — quero entrar em diálogo com ela. A imagem não é o fim, mas a prova de um encontro.

Nesse sentido, a fotografia torna-se um meio para compreender o que me rodeia — e o que me habita. Fotografar é, muitas vezes, a minha forma de pensar com os olhos, de sentir com o corpo inteiro, de estar verdadeiramente presente. Através da lente, aprendo a ver melhor — a reparar no que passaria despercebido, a reconhecer a beleza nas margens, nos pequenos ritmos da natureza, nos gestos cotidianos que normalmente não ousariam chamar a atenção.

Mais do que criar imagens “boas”, procuro imagens honestas — que nasçam do encontro entre a minha sensibilidade e aquilo que o mundo me oferece. É um exercício de humildade, o mundo existe antes e depois de mim. Eu apenas o atravesso com a intenção de compreendê-lo um pouco melhor.

Cada fotografia é então uma pergunta. Uma tentativa de aproximação. Um “estive aqui e tentei entender”. Às vezes falho — e tudo bem. A imagem nem sempre responde, mas mesmo assim ensina-me. Porque nesse processo de observar, esperar, escutar com a lente, algo se transforma, não é só o mundo que se revela, sou também eu quem se revela no ato de olhar.

Fotografar sem a ambição de alcançar “a melhor fotografia” é libertador. Deixa de haver ansiedade, comparação, ego. O que há é o momento. O silêncio. A escuta. A entrega. E, paradoxalmente, é nesse espaço livre de exigência que por vezes surgem as imagens mais significativas — porque nascem do encontro verdadeiro, e não do desejo de controlar.

A fotografia, assim vivida, é uma forma de cuidado. Cuidar do olhar, da escuta, da atenção. Cuidar do outro — seja ele um rosto, uma paisagem, um reflexo — com respeito e presença. E cuidar de mim, na medida em que esse gesto me reaproxima do mundo e me lembra que faço parte dele.

Fotografar para entender é aceitar que nunca saberei tudo, mas que posso sempre olhar melhor.

Para mim, fotografar nunca foi uma corrida atrás da imagem perfeita. Não me movo por destaques ou pela melhor luz, nem pela composição mais ousada. Fotografar, para mim, é uma forma de escutar. Um modo de estar presente, de me aproximar do mundo — e de mim próprio.

Cada vez que levanto a câmara, não o faço só para capturar. Faço-o para compreender. A fotografia, neste caso, não é o fim — é o caminho. Um pretexto para parar, observar, escutar com os olhos. Muitas vezes, a imagem final importa menos do que o que se transformou em mim enquanto fotografo.

Não procuro dominar o que vejo. Pelo contrário, fotografo para aprender com o que se revela, com o que resiste ao controlo. Através da lente, descubro padrões, silêncios, ligações. O que à primeira vista era comum, torna-se único. E eu, que pensei estar a olhar para fora, acabo por olhar também para dentro.

Esta forma de fotografar traz-me bem-estar. Não porque me isolo, mas porque me reconecto. Com o ritmo do mar, com o respirar das marés, com o brilho inesperado de uma anémona escondida entre rochas. Com a vulnerabilidade de um instante que sei que não voltará.

As imagens que vos mostro nascem de uma vontade de me relacionar com o mundo, sem o dominar. São fragmentos de tempo, sim, mas acima de tudo são testemunhos de encontros: entre mim e a paisagem, entre o olhar e a emoção, entre aquilo que vi — e aquilo que senti.

Espero que, ao verem as minhas fotografias, não vejam apenas o que está nelas. Espero que sintam, também, o que está por trás, o silêncio, a atenção, a escuta. E que, talvez, se sintam também convidados a olhar o mundo com um pouco mais de pausa.