DO PICTORIALISMO AO IMPRESSIONISMO,
PASSANDO PELO REALISMO E SURREALISMO,
ONDE FICAMOS?
SE É QUE QUEREMOS FICAR.
Como nota pré-introdutória importa mencionar que todos os conceitos que esta dissertação emanar, não passam de meras opiniões pessoais, que não podem ser tomadas como verdades absolutas, pois estas não têm cabimento no pensamento do autor.
INTRODUÇÃO
Comecemos por Charles Baudelaire (1821-1867), eminente poeta, ensaísta e crítico de arte francês, contemporâneo do nascimento da fotografia (primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1826 pelo francês Joseph Nicéphore Niépce), que recusava liminarmente reconhecer a fotografia como arte, para Baudelaire era impensável a atribuição de propriedades artísticas a um meio tecnológico que capturava imagens de modo aleatório.
Mas já Baudelaire que era amigo pessoal de proeminentes pioneiros da fotografia como Nadar (1820-1910) e Carjat (1828-1906), sentiu enorme desejo em ser fotografado e tudo fez para obter um retrato de sua mãe, abriu caminho a que Walter Benjamin (1892-1940), filósofo da Escola de Frankfurt, atenuasse a desconfiança de Baudelaire, embora mantivesse semelhante apreciação pessimista, considerasse a invenção de Niépce e Daguerre como uma técnica de reprodução aperfeiçoada que viria democratizar o acesso à arte e sua documentação.
Mas foi André Malraux (1901-1976) que definitivamente revolucionou a compreensão da fotografia como arte, no seu conceito de “museu imaginário” e em sua obra mais conhecida, "A Metamorfose das Obras", ele argumenta que a fotografia não é simplesmente um meio técnico, mas uma forma de expressão artística. Malraux acreditava que a fotografia poderia capturar a essência de momentos e sentimentos, transformando a forma como vemos e interpretamos o mundo.
Não seria preciso a nota introdutória para credibilizar a fotografia como arte, mas é sempre interessante termos presente que a evolução e afirmação dos seus créditos decorreu em tempos recentes e praticamente contemporâneos aos nossos.
A fotografia ao longo de sua história foi fortemente influenciada pelos movimentos artísticos das artes visuais e também desenvolveu os seus próprios estilos, movimentos e escolas. Não sendo do agrado do autor, compartimentar ou arrumar em gavetas as mais diversas formas de expressão fotográfica, mas tendo como principal foco de análise a estética, identifico como estilos artísticos mais marcantes na fotografia, o pictorialismo, o realismo ou “staight photography”, o surrealismo e o impressionismo (este sendo considerado mais como forma de expressão artística, do que propriamente um estilo artístico), que influenciam as mais diversas escolas, movimentos e áreas da fotografia até aos dias de hoje.
Estes estilos e formas de expressão artística têm reflexo transversal em praticamente todos os movimentos, escolas e áreas fotográficas, que uma análise ideológica e histórica possa contemplar. Deste modo, desde o movimento estritamente pictórico, ao de fotografia direta (“staight photography”) de Paul Strand e Ansel Adams, ou a escola Bauhaus e o modernismo fotográfico, o movimento Magnum de Cartier-Bresson, Sebastião Salgado ou Steve McCurry, até à fotografia conceitual de Cindy Cherman, o pós-modernismo de Sherry Levine, ou a fotografia contemporânea, todos eles possuem traços e influencias pictóricas, realísticas, surrealistas ou impressionistas.
PICTORIALISMO
O pictorialismo é um estilo formal e normalmente identificado historicamente com o fim do século XIX e início do século XX, possui uma estética semelhante à pintura clássica, com composições harmoniosas e equilibradas onde o autor representa uma visão própria e não apenas uma captura do que o olho vê, permite a manipulação da imagem de modo a torná-la suave e poética. A compartimentação temporal deste estilo é deveras redutor, pois se abrirmos nossa mente e considerarmos o pictorialismo como uma visão realista própria do fotógrafo quando está diante de uma paisagem deslumbrante, ou perante um cenário urbano, por certo entendemos a sua intemporalidade.
Sim, podemos afirmar que o pictorialismo ainda influencia a fotografia contemporânea, especialmente naquelas obras que buscam uma abordagem artística, subjetiva e expressiva. Embora o movimento, como disse atrás, tenha predominado no final do século XIX e início do século XX, sua ênfase na estética, no uso de técnicas de processamento e na valorização da impressão artística ainda ressoa em diversos estilos atuais, como a fotografia fineart, o processamento digital, e trabalhos que buscam criar uma atmosfera ou um efeito emocional específico.
Além disso, muitos fotógrafos contemporâneos valorizam a personalização, a experimentação e a criação de imagens que vão além do registo documental ou realista, aspetos que são centrais ao pictorialismo. Embora as tecnologias tenham evoluído e os movimentos se tenham transformado, o espírito de criar imagens com uma abordagem artística e subjetiva permanece influente na fotografia de hoje.
São muito consistentes os exemplos de fotógrafos contemporâneos que são influenciados pelo pictorialismo.
Embora o trabalho de Michael Kenna seja mais conhecido por suas paisagens minimalistas, há uma certa qualidade pictorialista em suas imagens, especialmente pela forma como ele trabalha com o contraste e o uso atmosférico da luz. Suas longas exposições, que frequentemente criam um efeito suave e etéreo, lembram o uso do desfoque e da suavidade do pictorialismo, mas com um toque moderno. O uso de composições simples e paisagens isoladas também remete a um tipo de poesia visual que pode ser vista em muitas obras pictorialistas.
Sally Mann é uma fotógrafa cujo trabalho explora temas de memória, infância e a relação entre o corpo e a natureza. Embora sua abordagem não seja totalmente pictorialista, suas imagens muitas vezes apresentam uma qualidade atmosférica e romântica que remete a essa tradição. Em projetos como Immediate Family e What Remains, ela usa técnicas alternativas, como o processo de colódio húmido, que proporciona uma textura e uma sensação visual que evocam o estilo pictorialista. Suas imagens podem parecer etéreas, com uma mistura de luz e sombra que flerta com a sensação de sonho.
Embora Richard Avedon seja mais conhecido por seus retratos de moda e celebridades, em certos momentos de sua carreira, no seu trabalho mais artístico, ele usou abordagens que, esteticamente, podem ser vistas como influências do pictorialismo. Seus retratos de alto contraste, por exemplo, com iluminação suave e focos sutis, podem ter uma ressonância com o trabalho pictorialista, onde a "textura" da fotografia é quase tão importante quanto a representação do sujeito.
Já Elzbieta Kwiatkowska trabalha com um estilo que mistura o tradicional e o contemporâneo, influenciada por técnicas do pictorialismo, incluindo o uso de processos fotográficos alternativos e manipulação das imagens. Em seu trabalho, há um uso deliberado de desfoques suaves e atmosferas místicas, que se alinham com as intenções estéticas do pictorialismo de criar uma "realidade sensível" mais do que uma representação objetiva do mundo.
Sabemos que Gregory Crewdson é mais associado ao estilo cinematográfico e ao realismo exagerado, algumas de suas imagens, especialmente aquelas em que explora paisagens suburbanas e situações isoladas, podem ter um efeito visual que remete ao pictorialismo. Suas composições cuidadosamente orquestradas, a iluminação dramática e as atmosferas surrealistas capturam uma sensação de sonho e melancolia, elementos frequentemente presentes no pictorialismo.
É importante referir Barbara Probst que utiliza múltiplas câmeras para capturar diferentes perspetivas de uma cena, o que resulta em imagens que têm uma qualidade semelhante à de uma pintura de múltiplos ângulos. Embora seu trabalho não seja uma réplica do pictorialismo, o uso de luz e composição, juntamente com um certo tipo de distanciamento emocional e atmosferas saturadas, traz uma reminiscência de algumas das intenções do movimento, especialmente a criação de uma realidade intensificada e subjetiva.
John Coffer é um fotógrafo contemporâneo que se dedica a técnicas de processos antigos, como a fotografia em ambrotipo (um processo de colódio húmido). Ele cria imagens que se parecem com aquelas de fotógrafos do século XIX, e o efeito de suavidade e a sensação de outra época em seu trabalho são influências diretas do pictorialismo. O uso de processos alternativos como o ambrotipo oferece uma textura única e uma qualidade atemporal que lembra o espírito romântico do pictorialismo.
Embora Penn seja mais famoso por seus retratos de moda, especialmente no início de sua carreira, muitos de seus trabalhos mais artísticos (como as séries sobre natureza morta e os retratos de celebridades) têm uma qualidade pictorialista. O uso cuidadoso de iluminação, contraste suave e uma sensibilidade à textura das superfícies em suas fotografias podem ser vistos como uma ressonância com o movimento pictorialista.
A influência do pictorialismo ainda vive em várias vertentes da fotografia contemporânea, especialmente em fotógrafos que buscam transmitir emoções e atmosferas em vez de capturar a realidade de forma objetiva. Embora o movimento tenha sido superado por várias outras tendências, a nostalgia por processos alternativos, a busca por texturas e o desejo de evocar uma sensação de irrealidade continuam a alimentar a prática de fotógrafos contemporâneos.
REALISMO
O realismo ou straight photography continua sendo uma abordagem relevante e valorizada na fotografia contemporânea. Este estilo valoriza a captura de imagens de forma natural, nítida, sem processamento excessivo, enfatizando a autenticidade, a objetividade e a composição direta do momento presente.
O realismo tem especial influência na Fotografia de rua e documental, onde a autenticidade e a realidade do momento são essenciais para transmitir mensagens sociais, culturais ou pessoais., também na Fotografia de jornalismo e reportagens, que priorizam a verdade visual, evitando manipulações que possam distorcer os fatos, na Fotografia de natureza e paisagem, quando se procura mostrar a realidade do ambiente de forma fiel, valorizando a beleza natural sem exageros criativos e também na estética minimalista e “clean”, frequentemente associada ao “straight photography”, priorizando elementos visuais precisos e claros.
Na era digital, esta abordagem é ainda mais acessível, pois a tecnologia permite capturar imagens com alta qualidade e fidelidade. Além disso, o movimento promove uma reflexão sobre a ética visual e a importância de manter a integridade na representação do mundo, valores que continuam relevantes na produção fotográfica de hoje.
Se eu tivesse de escolher um fotógrafo contemporâneo que se alinha bem ao estilo do realismo ou da straight photography, eu diria que Alec Soth é uma excelente referência. Ele tem uma abordagem que, embora muitas vezes envolva elementos de composição cuidadosamente planejados, mantém uma qualidade de autenticidade e uma conexão direta com o "real". Suas imagens têm essa sensação de estar capturando a vida de uma maneira crua, mas ao mesmo tempo poética, com um forte foco no ser humano e no cotidiano.
Soth é um mestre em criar um "momento" através da lente, fazendo com que a simplicidade de uma cena cotidiana se torne um estudo de profundidade emocional. Ele é conhecido por seu trabalho em projetos como Sleeping by the Mississippi e Broken Manual, que se afastam de uma abordagem artificial e buscam, em grande parte, capturar a realidade de forma pura, mas ainda cheia de narrativas e sutilezas.
Outro nome interessante seria Todd Hido, especialmente no que se refere à captura de cenas suburbanas e noturnas que transmitem um sentimento de quietude inquietante, muitas vezes desprovidas de qualquer exagero dramático. As imagens de Hido são quase como registos fotográficos em que ele captura a tensão entre o que é real e o que é evocativo, mantendo a honestidade visual de uma “straight photography”, mas com uma certa carga emocional.
Num estilo mais documental e sem manipulação, esses fotógrafos, ao lado de figuras como Stephen Shoree Lee Friedlander, continuam a manter viva a tradição da straight photography com uma abordagem contemporânea.
SURREALISMO
O surrealismo na fotografia é uma área fascinante que mistura arte, técnica e psicologia, explorando o inconsciente, o absurdo e a fantasia. Assim como nas artes plásticas e na literatura, o surrealismo na fotografia busca ultrapassar a realidade objetiva, criando imagens que desafiam a lógica e a perceção convencional do mundo.
O surrealismo surgiu nas artes no início do século XX, inspirado pelas teorias de Sigmund Freud sobre o inconsciente, e teve grandes expoentes como Salvador Dalí, René Magritte e Max Ernst. Na fotografia, esse movimento tomou forma quando artistas começaram a usar a câmera para criar imagens que pareciam saídas de um sonho, distantes da realidade cotidiana.
A fotografia surrealista geralmente distorce ou manipula a realidade de maneira a criar imagens que são ao mesmo tempo familiarmente estranhas e misteriosas. Isso pode ser feito através da fotomontagem, da sobreposição de imagens, da longa exposição, ou do uso de técnicas como o dupla-exposição para criar efeitos inesperados.
Muitas das imagens surrealistas tentam representar o inconsciente ou os sonhos, com cenas que são ilógicas, porém visualmente impactantes. Fotografias podem capturar momentos desconectados do tempo ou do espaço, como objetos flutuando, figuras humanas em contextos impossíveis ou a justaposição de elementos que não pertencem ao mesmo ambiente.
O surrealismo na fotografia está intimamente relacionado à exploração dos desejos, medos e pensamentos reprimidos. Em muitos casos, os fotógrafos usam seus próprios processos psicológicos, pessoais e emocionais para criar suas imagens, assim como Dalí e outros surrealistas usaram a pintura para representar seus próprios sonhos e fantasias.
Um dos elementos-chave do surrealismo é o absurdo — apresentar imagens que parecem impossíveis ou paradoxais. Isso pode ser feito através de cenários irrealistas ou pela distorção de objetos e figuras conhecidas.
A fusão de elementos reais com elementos fantásticos ou imaginários é uma característica central do surrealismo na fotografia. Isso pode incluir cenas como uma árvore com uma cabeça humana ou uma figura humana envolta em fumaça.
Um dos pioneiros do surrealismo fotográfico, Man Ray (1890–1976) foi uma figura central no movimento, criando algumas das mais icônicas imagens surrealistas da história da fotografia. Ele é conhecido pelo uso de técnicas inovadoras, como a solarização (quando a imagem é parcialmente exposta à luz durante o processo de revelação), e por suas fotomontagens, além dos famosos rayographs, que são impressões fotográficas feitas sem câmera, colocando objetos diretamente sobre o papel fotográfico exposto à luz.
Lee Miller foi uma fotógrafa e ex-modelo que trabalhou com Man Ray e, eventualmente, se tornou uma das grandes fotógrafas surrealistas. Seu trabalho inclui uma mistura de retratos e imagens experimentais, muitas vezes focadas em manipulação de objetos e em explorar as relações entre o corpo humano e o surrealismo visual. Suas imagens são frequentemente etéreas, com atmosferas oníricas e misteriosas.
Hans Bellmer é conhecido por suas séries de fotografias de bonecas surrealistas, que ele construiu e fotografou de forma a criar imagens inquietantes e perturbadoras. Suas fotos exploram temas de desejo, fetichismo e o grotesco, imortalizando essas "bonecas" em poses eróticas ou fantásticas que parecem questionar as fronteiras entre o humano e o inanimado.
Dora Maar, além de ser amante de Picasso, foi uma fotógrafa surrealista que produziu algumas imagens potentes, com uma atmosfera de mistério e distorção. Seu trabalho foi profundamente influenciado pelo movimento surrealista, e ela utilizou técnicas como a fotomontagem para criar imagens visualmente perturbadoras, que abordam temas de distorção e de um realismo subjetivo.
Um dos fotógrafos mais renomados a trabalhar com manipulação analógica (mesmo antes da revolução da fotografia digital), Jerry Uelsmann usava técnicas de fotomontagem manual, criando imagens surreais que eram compostas por várias exposições em negativos e ampliadas. Seu trabalho frequentemente representa mundos impossíveis, com a fusão de paisagens e corpos humanos, por exemplo.
Erwin Wurm é um fotógrafo contemporâneo que explora o surrealismo por meio da fotografia, frequentemente criando imagens que questionam a percepção do corpo humano e do espaço. Ele é conhecido por suas obras em que distorce objetos cotidianos para torná-los algo que não se encaixa no contexto tradicional, criando um efeito surrealista.
Francesca Woodman é uma fotógrafa cujo trabalho está intimamente relacionado ao surrealismo, especialmente na maneira como ela usa o corpo humano e a interação com o espaço. Suas imagens frequentemente apresentam figuras parcialmente visíveis ou em movimento, com a impressão de que estão fugindo da realidade. Seu trabalho também lida com questões de identidade e o passageiro.
Diversos fotógrafos contemporâneos incorporam o estilo surrealista em seus trabalhos, explorando o inconsciente, o onírico e o fantástico por meio de manipulações visuais, composições simbólicas e atmosferas irreais. Aprecio imenso os trabalhos dos seguintes fotógrafos.
Erik Johansson (Suécia) cria imagens hiper-realistas e impossíveis, que brincam com as leis da física e da perspetiva recorrendo a manipulação digital externa, foi fortemente influenciado por René Magritte
Brooke Shaden (EUA) mistura corpo e ambiente de forma simbólica, remetendo a sonhos e emoções internas em autorretratos encenados, muitas vezes com sonhos e emoções internas.
Chema Madoz (Espanha) transforma objetos cotidianos em enigmas visuais, com forte carga poética e simbólica.
Maggie Taylor (EUA) reinterpreta contos e memórias em imagens de atmosfera etérea e narrativa ambígua utilizando fotomontagens digitais com estética de colagem.
Nicolas Bruno (EUA) cria cenas perturbadoras e simbólicas com forte carga psicológica, conhecido pela sua fotografia performática inspirada na sua experiência com paralisia do sono.
O surrealismo na fotografia continua a ser uma forma poderosa de explorar a psique humana e a subjetividade. Hoje, muitos fotógrafos contemporâneos ainda se inspiram nas ideias surrealistas, explorando o onírico, o irracional e o inconsciente por meio de novas técnicas, como manipulação digital, fotomontagem e experimentação com luz e sombra. O movimento surrealista abriu um espaço para que os fotógrafos criassem não apenas representações do mundo real, mas também interpretações visuais que desafiam as convenções da realidade e da percepção.
IMPRESSIONISMO
O impressionismo na fotografia é uma abordagem estética inspirada no movimento impressionista da pintura do século XIX, liderado por pintores como Monet, Renoir e Degas. Na fotografia, o impressionismo não é um movimento histórico formal, com incidência em determinado espaço temporal, mas sim um estilo artístico que busca capturar emoções e atmosferas através da luz, do movimento e da suavidade, evocando a estética das pinturas impressionistas.
Os trabalhos fotográficos com vincada influencia impressionista, utilizam a luz como protagonista, especialmente em momentos suaves como o amanhecer ou entardecer, ou em contrastes suaves e tons delicados que evocam a luminosidade atmosférica típica dos pintores impressionistas. As imagens propositadamente desfocadas, tremidas ou com longa exposição, são utilizadas para transmitir emoção e subjetividade.
Com expressão impressionista nos seus trabalhos, podemos referir Freeman Patterson (Canadá) que mistura natureza com abstração. Usa foco seletivo e cores suaves para criar composições quase pictóricas, ou Eva Polak (Nova Zelândia) especialista em fotografia impressionista; usa ICM e técnicas de desfoque deliberado para pintar com a câmera. É também impressionante o trabalho de Doug Chinnery (Reino Unido) conhecido por seu trabalho com múltiplas exposições e movimento de câmera, produzindo paisagens e cenas urbanas abstratas, já Chris Friel (Reino Unido) produz imagens expressivas com forte carga emocional, muitas vezes em preto e branco ou tons muito suaves.
Com vincada expressão impressionista não podemos esquecer o trabalho de Valda Bailey com formação em pintura utiliza a câmera como pincel, criando imagens abstratas e expressivas por meio de múltiplas exposições e movimentos intencionais de câmera (ICM), o seu trabalho procura transmitir sensações e emoções, priorizando a expressão sobre a representação literal. Também Stephanie Johnson é uma especialista em ICM e cria imagens que capturam a fluidez e a essência das paisagens naturais. Por fim não podemos esquecer Ernst Hass, pioneiro da fotografia colorida utilizava técnicas como desfoque de movimento e foco seletivo para criar imagens poéticas e metafóricas, o seu trabalho influenciou gerações de fotógrafos
Como contraponto ao surrealismo, podemos afirmar que o impressionismo encontra a sua expressão na sensação, luz e perceção subjetiva, enquanto, o surrealismo foca no inconsciente, simbolismo e justaposições inesperadas.
DO PICTORIALISMO AO IMPRESSIONISMO, PASSANDO PELO REALISMO E SURREALISMO, ONDE FICAMOS, SE É QUE QUEREMOS FICAR
Esta é a grande questão na fotografia artística que tem preocupado e continuará a acompanhar todo o meu trabalho. A resposta vai sendo construída ao longo do tempo e tal como a obra mais icónica de Antonio Gaudi, a Sagrada Família, irá interminavelmente sendo construída, mas ganhando sempre consistência e clarividência dia após dia.
A arte, tal como o pensamento está em permanente evolução, se a liberdade viaja, utiliza o pensamento para se deslocar e se reside em algum lugar, a arte é a sua casa, sendo decerto a arte fotográfica a mais aconchegante.
Sei que há quem se relacione com estes assuntos de forma puramente pragmática, para eles, no caso de serem fotógrafos, pouco ou nada se importam se o seu estilo fotográfico é influenciado por alguma corrente, movimento ou escola, ou se preocupam com estes temas na perspetiva de melhoria e evolução do seu trabalho. Fotografam com estilo, ponto. E fotografam bem, o pragmatismo absoluto é uma forma de estar, que embora a não recomende, há momentos em que a análise pragmática pode ajudar o pensamento a serenar.
E aqui chegados, como diria certa pessoa pragmática que por vezes ouço na televisão, a relação de um fotógrafo com as diversas expressões artísticas depende dos objetivos pessoais e se for esse o caso, profissionais, do fotógrafo e nada mais pragmático que fazer um “brain storming” de prós e contras entre a perspetiva de nos situarmos ligados mais a um estilo fotográfico ou vaguearmos, digamos assim, pelos vários estilos fotográficos que identificámos até aqui.
Focarmos o nosso trabalho num só estilo fotográfico torna o fotógrafo reconhecível, o que pode fortalecer a identidade artística e permite aprofundar conhecimentos técnicos específicos evidenciando uma evolução e refinamento da obra, permitindo fidelização e aumento de procura numa determinada área de “mercado”.
Por outro lado, o apego a um só estilo leva à estagnação criativa e limita oportunidades de evolução do trabalho e abordagem de temas.
A exploração de vários estilos fotográficos estimula a descoberta, a inovação e o crescimento artístico, o que promove a liberdade criativa e versatilidade, que é útil na evolução do trabalho do fotógrafo, podendo inclusivamente vincar um estilo pessoal autêntico.
A abordagem de vários estilos fotográficos sucessivamente, pode por outro lado dificultar a construção de uma identidade visual clara e definida, podendo transparecer ausência de rumo do trabalho ao longo do tempo.
Não considerando os anos em que fotografava com câmeras compactas, câmeras de telemóvel, nem fazendo ressurgir os gloriosos tempo de adolescência com a câmera analógica de meu pai, nos últimos cinco anos tenho vindo a fazer fotografia em modo intensivo (e não perspetivo que venha a ser de outra maneira) e sempre tenho ocupado meu tempo em conhecer o trabalho de outros fotógrafos, deliciar-me com suas imagens e atrás disso a preocupação pela história da fotografia, da evolução dos seus estilos, movimentos e escolas. Sempre tive presente que para fotógrafos em formação técnica e artística como eu, experimentar é essencial, mas traçando firmemente o azimute para manter um estilo pessoal com liberdade para os diversos projetos que me atraiam, adaptando cada situação ao estilo, ou estilos que julgue serem os maios adequados.
Construir uma identidade fotográfica forte e coesa, mesmo com influências múltiplas como o pictorialismo, realismo, surrealismo e impressionismo, é totalmente possível e pode ser extremamente rico artisticamente. O segredo está em integrar esses estilos de forma intencional e autoral, em vez de apenas alterná-los.
Perante cada projeto fotográfico, desde o seu conceito mais amplo, até à execução de uma só fotografia porque nos detivemos perante um cenário que nos cativou a atenção, se tivermos nosso pensamento estimulado pelo que os diversos estilos fotográficos nos influenciam, teremos com certeza uma abordagem que intencionalmente ou não, ou até mesmo à posteriori podemos identificar traços de pictorialismo que enfatiza o especto artístico da fotografia, com foco na composição, luz suave, manipulação da imagem e emoção, ou no realismo quando pretendemos mostrar o mundo como ele é, com fidelidade visual e muitas vezes com temas sociais ou documentais, mas podemos sentir mais confortáveis com uma abordagem surrealista, trabalhando com o inconsciente, o sonho, o simbólico e o inesperado, ou podemos simplesmente captar sensações e atmosferas, usando luz, cor e movimento para sugerir mais do que mostrar e assim incutir um estilo impressionista ao nosso trabalho.
Março de 2025, pinhal em manhã de ténue neblina, com jogos de luz e cor, relembra imagens dos tempos áureos do pictorialismo revivalista.
Novembro de 2024, cena de vida em Alcantara, Lisboa, retrata a realidade tal como ela é.
maio de 2023, reflexos de luz em veio de água numa praia, produz uma imagem onírica que me transporta para um mundo imaginário
junho de 2024, movimento, luz e cor transmitem uma atmosfera de suavidade e permitem uma perceção subjectiva, típico do impressionismo.